Aérospatiale/BAC Concorde

DESENVOLVIMENTO
Nos anos 50 os governos dos Estados Unidos, União Soviética, Reino Unido e França estavam estudando uma aeronave capaz de fazer o transporte supersônico de passageiros. A BAC (Bristol Aeroplane Company) da Inglaterra e a Sud Aviation da França começaram a trabalhar no projeto: a BAC com o seu "Type 223" e a Sud Aviation com o seu "Super-Caravelle". Ambos os projetos foram financiados em grande parte pelos governos Britânico e Francês. Porém os custos se revelaram muito altos e o governo Britânico exigiu que a BAC procurasse uma parceria. O único que demonstrou interesse real foi a França, nascia ai o projeto do Concorde entre a inglesa BAC e a francesa Aérospatiale.
O nome foi um primeiro problema, "Concord" em inglês ou "Concorde" em francês. Inicialmente o nome era "Concorde", mas foi mudado para "Concord" por Harold Macmillan. No roll-out da aeronave o Ministro da Tecnologia do governo Britânico, Tony Benn, mudou novamente o nome para "Concorde", o que gerou uma revolta nacionalista por parte do Reino Unido. A revolta foi controlada quando Benn afirmou que o "e" seria de "Excellence" (excelência/perfeição em inglês).
O consórcio pretendia lançar duas versões do Concorde: uma para curto e outra para longo alcance. Mas nenhuma companhia aérea se interessou na versão de curto alcance. De outro lado, a versão de longo alcance recebeu mais de cem encomendas de várias companhias no mundo, entre elas a Air France, British Airways, Japan Airlines, Qantas e Pan Am.
A aeronave chama a atenção pelo seu formato diferente dos jatos convencionais. Para começar o Concorde é uma aeronave "sem cauda" (Tailless), ou seja, não possui outra superfície aerodinâmica horizontal além da asa principal. Dessa forma a aeronave consegue diminuir o arrasto e é mais eficiente em velocidades muito altas. Por outro lado, a aeronave precisa de uma asa principal maior, que irá incorporar o controle aerodinâmico e as funções de estabilização. Apesar do nome, o Concorde possuí o estabilizador vertical e leme na parte traseira da aeronave. Outra característica do Concorde são suas asas no formato ogival delta. A asa em forma de delta vem da letra em grego (Δ), fazendo referência ao seu formato de triângulo. Esse formato se mostrou adequado para voos subsônicos e supersônicos de alta velocidade, com características aerodinâmicas únicas e vantagens estruturais. Na asa ogival delta a borda principal não é reta, criando um vórtice de alta sustentação. No entanto esse tipo de asa requer um alto ângulo de ataque para manter a sustentação em baixas velocidades, sendo assim o Concorde precisa de um alto ângulo de ataque quando está decolando ou se aproximando para o pouso. Isso faz com que o nariz do avião fique alto e atrapalhe a visão dos pilotos. A solução para esse problema foi o "droop nose", onde o nariz da aeronave é capaz de virar para baixo melhorando a visibilidade na cabine de comando. Durante a maior parte do voo o nariz é mantido na posição horizontal, gerando maior eficiência aerodinâmica. Além do nariz móvel, o Concorde também precisava de um trem de pouso forte e alto para permitir o ângulo de ataque em baixa velocidade. O Concorde possuí velocidades de decolagem e pouso maiores do que os jatos convencionais e suas asas quase não geram sustentação até atingir a velocidade de decolagem, o que aumenta as tensões no trem de pouso.
O Concorde foi o primeiro avião comercial a utilizar a tecnologia fly-by-wire, ainda que analógico, além de circuitos híbridos, computador de dados aéreos complexos (ADC) e sistemas independentes triplicados.
Os motores do Concorde foram desenvolvidos pela Rolls-Royce a partir do protótipo do bombardeiro supersônico BAC TSR-2. Os motores RR Olympus utilizam a tecnologia "turbojet" (turbojato), a mesma utilizada pelas primeiras gerações de jatos como o Boeing 707. Esse tipo de motor é menos eficiente do que os motores "turbofan" (turbo-ventilador) utilizados nas gerações de jatos posteriores. Apesar de muito mais econômico em velocidades subsônicas, a tecnologia turbofan se mostrou ineficiente em velocidades supersônica, pois a grande área frontal ocupada pelo ventilador aumenta o arrasto. Por esse motivo os motores do Concorde eram altamente ineficientes em baixas velocidades se comparado com outras aeronaves como o Boeing 747. O Concorde só conseguiria diminuir essa diferença quando alcançasse velocidades supersônicas. Além disso, para a decolagem e durante a velocidade transônica, o Concorde precisava de uma potência adicional do motor. Para isso a aeronave utilizava pós-combustores (afterburner), um processo que injeta combustível adicional em um combustor atrás da turbina, aumentando significativamente o empuxo sem precisar utilizar um motor maior. A vantagem é a redução do peso, mas a desvantagem é o aumento do consumo de combustível, o que limita seu uso a curtos períodos. Quando uma aeronave se aproxima da velocidade do som, aparece um fenômeno que aumenta o arrasto. Dessa forma as aeronaves supersônicas precisam de mais potência para continuar acelerando. É nesse momento que o Concorde utiliza pós-combustores novamente. Quando a aeronave ultrapassa a velocidade do som e chega em velocidades supersônicas, o coeficiente de arrasto cai drasticamente, embora permaneça mais alto do que em velocidades subsônicas.
Outra característica do Concorde são janelas menores, feitas dessa forma propositalmente para reduzir a taxa de perda de pressão em uma eventual despressurização da cabine. Como a aeronave tem uma altitude de cruzeiro mais alta do que os jatos subsônicos, a densidade do ar do lado de fora da aeronave é mais baixa.
Dois protótipos foram construídos em 1965, o Protótipo 001 pela Aérospatiale e o Protótipo 002 pela BAC. O "Concorde 001" fez o seu primeiro voo no dia 2 de março de 1969 e o "Concorde 002" no dia 9 de abril de 1969.
Embora os custos de desenvolvimento do Concorde tenham sido mais de seis vezes maiores do as projeções originais, aumentando o preço da aeronave, o que se pensava na época era que o Concorde representava o futuro da aviação comercial e que os aviões supersônicos logo substituiriam todos os outros aviões de longo alcance, mesmo o gigante recém-lançado na época Boeing 747. Isso logo gerou uma corrida com os EUA financiando o projeto do Boeing 2707 e a Rússia o projeto do Tupolev Tu-144, ambos jatos comerciais supersônicos. O maior custo de operação e consumo de combustível das aeronaves supersônicas, poderiam ser compensados pela maior velocidade, de modo que menos aeronaves seriam necessárias para atender uma rota específica.
Por outro lado, ao mesmo tempo, o Concorde e os outros projetos de jatos supersônicos começaram a preocupar a opinião pública com relação a poluição ambiental e sonora que essas novas aeronaves poderiam trazer. Essas discussões causaram grande impacto nas vendas do Concorde e começaram a mudar a percepção de que o transporte supersônico seria o futuro. Em 1971 os EUA cancelaram o Programa de Transporte Supersônico (SST) com os projetos da Lockheed (L-2000) e da Boeing (B2707). Os EUA e outros países, como a Índia, acabaram proibindo voos supersônicos no território nacional, devido à poluição sonora. Para completar a "tempestade perfeita" veio a Crise do Petróleo em 1973, levando várias companhias aéreas a terem dificuldades financeiras. Como consequência a Air France e British Airways foi as únicas companhias aéreas que não cancelaram suas encomendas para o Concorde.

INICIO DAS OPERAÇÕES
No dia 21 de janeiro de 1976 foram iniciados os voos regulares com o Concorde pela British, na rota Londres - Bahrein, e Air France, na rota Paris - Dakar - Rio de Janeiro. Naquela época o Concorde estava proibido de pousar nos EUA, devido principalmente as manifestações populares contra o sonic boom. Mas em maio de 1976 os voos para os EUA foram liberados e a Air France e British levaram os seus Concordes para Washington. Em novembro de 1977 foi a vez de Nova York permitir voos do Concorde. Em dezembro de 1977 a British e a Singapore compartilharam um Concorde para voos entre Londres e Cingapura, a aeronave G-BOAD ganhou a pintura das duas companhias, uma de cada lado a aeronave. Em dezembro de 1978 a Braniff alugou Concordes da Air France e British para realizar voos subsônicos entre Dallas/Fort Worth e Washington. O Galeão, no Rio de Janeiro, foi um dos poucos aeroportos do mundo a receber o Concorde. O voo, que fazia escala em Dakar, durava seis horas e meia, enquanto um voo direto entre Paris e Rio pelo B747 durava 12 horas. O serviço de Concorde para o Rio foi cancelado devido à baixa ocupação em 1982.
A principal vantagem do Concorde era a velocidade: enquanto um jato comum levava oito horas para ir de Nova York até Paris, o Concorde fazia o voo em três horas e meia. Os quatro motores do Concorde tinham tanta potência que em 30 segundos a aeronave já estava na sua velocidade de decolagem (360 km/h). No inicio do voo, em quanto estava sob terra, o Concorde voava em velocidade subsônica (mach 0.93) e a uma altitude de mais ou menos 9 mil metros. Para evitar o incômodo causado pelo ruído do sonic boom, o Concorde só acelerava para a velocidade transônica, entre mach 1 e mach 1.6, quando estivesse sobrevoando o oceano. Nesse momento a barreira do som é rompida e o Concorde continua acelerando até atingir a incrível velocidade mach 2 (cerca de 2115 km/h). Nessa fase o avião se encontra entre 16 mil e 18 mil metros de altura, na Estratosfera (que começa a 11 mil metros). O voo em uma altitude mais alta dá mais estabilidade para a aeronave e as perturbações meteorológicas são quase nulas. Voar nessa altitude gera mais radiação para os passageiros, mas como o tempo de viajem era muito menor, o nível de radiação era igual ao dos jatos convencionais. Além disso o Concorde possuía um medidor de radiação e quando esta estava muito alta, ele descia para menos de 14 mil metros. Apesar do preço superior a um bilhete de primeira classe num Boeing 747, o Concorde oferecia pouco conforto para os seus passageiros. Sua cabine era estreita, permitindo apenas 4 assentos por fileira no formato 2+2. Os assentos eram menores e com menos espaço do que qualquer primeira classe. O luxo ficava por conta do serviço de bordo e do tempo de viagem. Após o pouso apenas dois dos quatro motores permaneciam ligados, pois devido ao alto empuxo, mesmo em marcha lenta, a aeronave não permaneceria estacionária com todos os motores ligados, exigindo que os freios fossem continuamente aplicados para evitar que a aeronave andasse.

APOSENTADORIA
O Concorde revolucionou o mercado de aviação comercial trazendo voos supersônicos, em contrapartida se mostrou uma aeronave extremamente cara de operar e menos eficiente do que os jatos subsônicos em termos de consumo de combustível. Por isso o Concorde ficou restrito a uma parcela pequena do mercado, disposto a pagar um preço muito mais caro pela passagem para ter como vantagem um tempo muito menor de viagem. Por outro lado os novos jatos wide-bodies como o Boeing 747 trouxeram uma grande economia de combustível e custos, que permitiu que as companhias aéreas pudessem vender bilhetes cada vez mais baratos, popularizando as viagens de avião. Com o passar do tempo ficou claro que a economia e eficiência cada vez maior dos jatos subsônicos era mais importante para as companhias aéreas do que a velocidade supersônica a um custo maior. Apenas Air France e British operaram o Concorde e nenhuma outra companhia comprou a aeronave.
No dia 25 de julho de 2000 o Concorde levou o seu golpe fatal depois de um acidente da Air France. Um Concorde da companhia caiu em Gonesse, logo após decolar do aeroporto Charles de Gaulle, matando todos os seus ocupantes. O Concorde então ficou proibido de voar em todo o mundo. Segundo a investigação oficial realizada pela Secretaria Francesa de Acidentes (BEA), o acidente foi causado por uma tira de titânio que caiu de uma aeronave da Continental Airlines. Outros contestaram o relatório da BEA, citando evidências de que o Concorde da Air France estava com sobrepeso. Mas o fato é que o acidente fez com que o Concorde passasse de aeronave mais segura do mundo para a menos segura, com 12,5 eventos fatais por milhão de voos, mais de três vezes que a segunda pior aeronave. Apesar de ter sido somente um acidente, muitos clientes nunca mais quiseram voar no Concorde.
O acidente fez com que a aeronave ganhasse melhorias como um melhor comando elétrico, um forro no tanque de combustível e pneus mais resistentes. O primeiro voo de teste com as modificações na aeronave ocorreu em julho de 2001. Finalmente no dia 7 de novembro de 2001 o Concorde foi liberado para voar comercialmente novamente. Air France e British retomaram seus voos supersônicos para Nova York. Mas o acidente da Air France e os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 fizeram com que o Concorde amargasse ocupações baixíssimas. Então no dia 10 de abril de 2003 Air France e British Airways anunciaram simultaneamente que iriam aposentar o Concorde no final daquele ano. A Air France fez o seu último voo com o Concorde na rota Paris - Nova York no dia 30 de maio de 2003. O Concorde da Air France ainda voaria levando tripulantes até junho de 2003. Já a British realizou uma turnê de despedida nos EUA e Canadá. No dia 24 de outubro de 2003 a British finalmente fez o seu último voo regular com o Concorde para Nova York.

 


Alberto Storti

 

Origem: Inglaterra / França
Produzido: 1965-1979
Comprimento: 62,10 m
Envergadura: 25,56 m
Altura: 11,40 m
Peso da aeronave: 78,7 toneladas
Peso máximo de decolagem/pouso: 185/111 toneladas

Motores: 4x Rolls Royce Olympus 593
Empuxo: 56 (4x 14) tonf / 68 (4x 17) tonf (afterburner)
Capacidade de combustível: 119 mil litros
Velocidade de cruzeiro: mach
2.02 (2115 km/h)
Velocidade máxima: mach 2.2 (
2330 km/h)
Altitude de cruzeiro: 18 km (62 mil pés)
Pista mínima para decolagem: 2,9 km
Passageiros: 92 a 120
Alcance: 7250 km
Primeiro voo:
2 de março de 1969
Entregues: 14

Concorrentes:
Tupolev Tu-144
Companhia Lançadora: Air France e British Airways
Comparar com outras aeronaves

 

 

 

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