EDITORIAL  |  REPORTAGENS  |  FLIGHT REPORTS  |  AEROPORTOS  |  AERONAVES  |  COMPANHIAS AÉREAS  |  ACIDENTES

 

Comissária de Voo


Até o momento, talvez não tenha conhecido uma pessoa sequer, que não tenha sonhado em um dia se tornar comissário(a) de bordo. E por quê não? Afinal, quem é que, quando criança ao menos, não sonhou em ser Super-Herói, trabalhando nas profissões mais "arriscadas": bombeiro, astronauta, marinheiro? Coisas que, mesmo já mais crescidinho, fazem parte de um cotidiano que não conhecemos?

A profissão de comissário de bordo mexe com o desejo natural dos jovens que não gostam de monotonia, e sonham em poder viajar, conhecer o mundo, o que, no final das contas, deve ser um dos fetiches de qualquer ser humano.

Eu, uma simples e mortal jornalista, tive a grande oportunidade de sentir na pele o que é ser uma comissária de bordo. Tudo começou quando meu editor-chefe, Gianfranco, em uma reunião de pauta, me deu uma longa seleção de textos sobre comissários de bordo, me pedindo para resumir e escrever uma matéria sobre esta profissão. Foi quando comecei a pesquisar e fazer contato com as assessorias de imprensa das companhias aéreas. A princípio a idéia era apenas conhecer o treinamento necessário para a profissão, me aprofundar mais no assunto.

Minha primeira resposta positiva veio da TAM, me convidando para conhecer a Academia de Serviços, que qualifica e prepara seus funcionários. Lá são treinados desde a recepcionista até os pilotos, desde os novos contratados aos mais antigos colaboradores que, por períodos, também passam por cursos e reciclagens.

A idéia de ser "comissária por um dia" partiu da chefe de treinamento dos comissários da TAM, Marcela Matos. Na hora topei: é comigo mesmo!! Estava me preparando psicologicamente para a missão, quando recebi um e-mail da Assessoria da TAM, informando que um treinamento especial havia sido preparado especialmente para mim. Na hora me veio à cabeça: Meu Deus! Vou ter que dormir na selva, matar galinhas para sobreviver??? Então soube que seria um treinamento mais "light", digamos, o básico para eu poder voar e servir os passageiros da TAM com o padrão que eles esperam.

Aprendendo a voar

Primeiras lições: apresentação pessoal, com o supervisor Wesley, que sabe tudo e um pouco mais. Comecei pelamake-up e cabelo: um topete de uns cinco centímetros foi adicionado ao meu novo visual. Quando me olhei no espelho, fiquei impressionada: estava "a própria" comissária, só me faltava uma escala de vôo...

As próximas aulas cobriram noções de detalhes e requintes a bordo, treinamentos específicos de segurança e, por último, mas não menos importante, também aprendi a servir o passageiro no padrão TAM. Moleza! Agora é só voar? Ainda não, estava completamente enganada...

Ser comissário de vôo é uma atividade dura, que requer aplicação e empenho diários, sistemáticos. Detalhes aos quais nós passageiros nem percebemos são fundamentais: até a forma como os comissários falam aos passageiros deve ser aprendida, treinada. Questão de disciplina e tempo, pois aviões têm hora de decolar e aterrisar: a mensagem precisa ser exata, rápida, mas ao mesmo tempo, calorosa. Tudo tem que ser perfeito.

Decolagem autorizada!

O grande dia chegou, ansiedade é o que não me faltava. Minha jornada de comissária começou às 08h45 minutos, quando fui até o Hangar 7 da TAM para fazer meu crachá. Em seguida, fui para a Academia de Serviços da companhia para vestir meu uniforme, ou seja, me transformar em aeromoça. E sempre acompanhada pela assessora de imprensa, Suzana Inhesta, que fez todas as fotos desta matéria e claro, pelo sempre presente Wesley, que não poderia me abandonar, não naquela hora...

Tudo pronto, chegamos ao terminal de Congonhas. Meu vôo estava previsto para as 12h45 minutos, num A-320 (prefixo PR-MAD, como quiz frisar o Gianfranco) e com destino para Vitória, E.S. Por sinal, seria o prefixo do avião uma coincidência? Estaria eu fazendo uma loucura? Nada disso: havia sido treinada para cumprir a missão.

Seguimos para o departamento de Operações, ou DO, onde todos os tripulantes se reúnem antes do vôo. Estava me sentindo bem familiarizada. Ninguém percebeu nada, nenhum olhar atravessado... Próximo passo, conhecer minha tripulação: todos muito simpáticos e atenciosos. Recebi algumas recomendações do comandante Paulino, enquanto aguardávamos nosso avião.

Aeronave entregue, um frio na barriga e lá estou junto com a tripulação, no meio do pátio, puxando minha malinha! Uma nova aeromoça acabara de nascer: Juliana. Esse era meu nome de guerra, (todas as comissárias tem um nome de guerra, para facilitar a identificação entre eles). Adorei, até porque poderia então escolher um nome normal para mim, nem que fosse por algumas horas...

Tripulação a bordo, mãos-a-obra. Começamos pela verificação dos assentos e mantimentos, tudo nos mínimos detalhes. Com tudo verificado, os passageiros começaram a embarcar. Já tínhamos dividido as tarefas: comecei servindo as balas, uma tradição da TAM. Pensando bem, a cesta de balas mais parecia um chocalho: além de tentar disfarçar o nervosismo, não era nada fácil manter o equilíbrio... mas depois das primeiras fileiras já estava tudo sob controle.

Já quase desfilava pela passarela, como se já tivesse meses de profissão quando ouvi: Juliana, por favor! Fiquei paralisada por alguns segundos. Com toda a atenção, virei-me e com surpreendente espontaneidade disse: Pois não, senhor? Ainda bem que foi só um pedido do cavalheiro para mudar de assento... Ufa!

O serviço de bordo foi iniciado: começamos a servir o almoço aos passageiros. Fiz tudo bonitinho, e só fui avisada para afastar mais os pés para ter mais equilíbrio. Melhorou, depois disso até bebida em bandeja eu servi. Os serviço de bordo foi cumprido. O comandante anunciou o procedimento de descida. Puxa, na hora que estava pegando o jeito já estava acabando!

O A320 pousou, muito suavemente, por sinal. Fui convidada pela chefe de equipe a fazer a despedida dos passageiros na porta do avião. Com toda a simpatia do mundo, nos despedimos e pelos próximos dez minutos, ficamos dando os "Boa tarde!" ou "Tenha um bom dia..."

De volta ao chão

A experiência serviu para perceber que esta é uma profissão muito mais exigente do que parece. Não é tão simples assim como arrumar uma mala, vestir o elegante uniforme e, a cada dia, conhecer um destino diferente, viajar pelo mundo... Antes de mais nada, é válido lembrar que para se tornar um Comissário de Bordo, são realizados testes rigorosos, que testam o perfil psicológico do candidato, principalmente a postura comportamental. A fim de se cultivar o senso de responsabilidade, é fundamental, por exemplo, que pontualidade e assiduidade sejam estritamente respeitadas.

O dia-a-dia de um comissário é feito de muito trabalho árduo, e literalmente, tem seus "altos e baixos". Não se resume apenas a viajar, poder desfrutar de hotéis luxuosos, passeios, compras, enfim, tudo que uma viagem de turismo oferece. Por muitas vezes o comissário sente-se só, deprimido devido à distância da família, dos amigos... São fatores que influenciam diretamente no seu estado emocional. Os profissionais mais experientes garantem que o contato direto com os passageiros é a melhor forma de suprir essa ausência.

Segundo uma das minhas "colegas" comissárias, o grupo de vôo torna-se uma grande família: por diversas vezes estão juntos no Natal, no Reveillon, ou seja, datas que geralmente passamos com nossos verdadeiros familiares. Mais do que a sensação de ausência, precisam saber que quem lida diretamente com público precisa ter bastante equilíbrio psicológico: pode haver situações inusitadas que precisam ser controladas com frieza e segurança pela tripulação.

Os interessados em seguir a carreira de comissários de vôo que visitam as páginas do jetsite diariamente (e não são poucos...) podem pensar nestas lições que tive a sorte e a honra de aprender em primeira pessoa: a razão para se trabalhar como comissário de bordo, antes de mais nada, é servir ao público, ao passageiro.

A profissão exige preparo físico, intelectual e espiritual, para poder, da forma mais agradável e natural possível, proporcionar uma viagem com toda a segurança e conforto aos usuários.

Giulessa Concon
Nossa repórter e "Comissária Juliana" por um dia

Nota do editor: em meu nome, Gianfranco, da Giulessa e de toda a equipe do jetsite, nossos mais sinceros agradecimentos à TAM e em especial, aos profissionais que se empenharam em nos ajudar a fazer esta matéria. Entre eles, não poderíamos deixar de citar o sr. Wesley, a chefe de treinamento e idealizadora da matéria, Marcela Matos, e a Assessora de Imprensa da TAM (e super-fotógrafa) Suzana Inhesta. Sem eles, esta matéria seria impossível. Obrigado e bons vôos!

 

Topo da página