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Genebra: emirado árabe na europa

Genebra, "capital" da Suíça francesa, localizada praticamente na fronteira da França, ao pé das Montanhas do Jura e às margens do Lago Genebra. Uma combinação geográfica que faz da cidade uma das mais bonitas da Europa. Some-se a isso o seu ar cosmopolita - talvez devido à presença da ONU - que convive com a tranqüilidade inerente às cidades suíças. Voilá! O resultado, um destino rico culturalmente e que, em termos aeronáuticos, também tem muito a oferecer.

O Aeroporto de Cointrin tem lá suas peculiaridades; Trata-se de um aeroporto binacional, servindo tanto a França como a Suíça. Suas instalações estão, no entanto, totalmente em território suíço. Mesmo assim, parte de seu terminal, o chamado setor francês, somente pode ser acessado passando-se pela imigração antes do check-in. Vindo-se de carro da França, o acesso a esta parte se dá por uma auto-estrada cercada, um corredor francês dentro da Suíça.

Existe apenas uma pista pavimentada, de cabeceiras 05 e 23, com os ventos predominantes favorecendo a operação pela cabeceira 05. O terminal de passageiros encontra-se do lado sul da pista e ao norte encontra-se um dos vários pátios de aviões executivos. A movimentação no solo é portando bem simples, com apenas uma taxi-way principal saindo tanto à esquerda como a direita do pátio de manobras. Não é difícil concluir que a simplicidade da disposição facilita e muito o trabalho do fotógrafo.

 

Fotografando

Minha primeira visita a Genebra foi em 1993. Na época - spotter iniciante - não conhecia os melhores lugares para foto, externos ao terminal. Fiquei mesmo no terraço panorâmico, hoje fechado para reformas. Não era uma posição ruim para aquela época do ano (final do inverno), porém no verão fotos desta posição limitavam-se ao período da manhã. Em 2002, já mais escolado e contando com as dicas de alguns amigos, fui direto para a aproximação da pista 05, em uso naquela manhã ensolarada de verão. Foi perfeito! A distância em relação à aproximação fica a critério do fotógrafo e para chegar a esta posição basta seguir a calçada do aeroporto virando à direita ao sair do terminal: caminha-se até entrar finalmente à direita, em direção ao prédio da Privatair. No verão esta posição pode ser usada o dia todo, mudando de posição durante o dia, para acompanhar o movimento do sol. 

Caso a pista 23 esteja em uso, basta sair à esquerda do terminal, seguindo a calçada em direção ao terminal de carga (Fret) e ao pavilhão de exposições Palexpo: depois de uns 15 a 20 minutos de caminhada, ladeando a cerca do "corredor francês" chega-se a um cruzamento, onde há um pequeno morrote. Lá se fica mais alto que a cerca (veja foto do Boeing 747-400 da El Al). Esta posição é indicada para fotos até as 13:00. Deste horário em diante, até as 16:30, existe uma lacuna na qual o sol não esta idealmente colocado em relação aos aviões, sendo um ótimo horário para se comer uma baguette jambom/fromage. Hê hê hê. 

Após as 16:30, muda-se de lado e de país, fazendo-se as fotos do lado francês do perímetro. Para isto, basta seguir a pé pelo túnel que passa sob a pista, chegando-se à fronteira. As formalidades são quase nulas e aqui existem duas opções: pode-se seguir tanto à esquerda como a direita das instalações fronteiriças. No primeiro caso, percorre-se uns 300 metros em um campo gramado, terminando em um morrote ao lado da pista, diametralmente oposto ao local visitado pela manhã. Seguindo-se à direita, em direção a um shopping center, a pedida é ficar no playground anexo ao estacionamento deste, de onde se tem visão sobre a cabeceira 23. Neste caso porém a maioria dos aviões pousando será fotografado alto em relação à pista, ao contrário do ponto anterior (veja foto do Boeing 747SP dos Emirados Áraves). Em dias claros, no entanto, existe a possibilidade de fotografar os aviões taxiando para a cabeceira ou alinhados, com o Mont Blanc ao fundo.

 

Le traffic

A movimentação em Genebra pode ser facilmente classificada em vôos regulares e vôos não regulares, e surpreende constatar que, por vezes, o segundo tipo predomina sobre o primeiro. Justamente esta diferença faz de Cointrin um dos aeroportos mais interessantes da Europa. A maioria das empresas de bandeira do Velho Continente servem Genebra, algumas com mais freqüência do que em Zürich. Digno de nota o intenso tráfego de jungle jets, com dezenas de vôos por dia com exemplares da Swiss, Alitalia Express, Rheintalflug, British Airways, Air France e Luxair Commuter. A easyJet Switzerland tem aqui sua base e principal hub, garantindo um vai-e-vem de seus bólidos alaranjados ao longo do dia. No quesito vôos de longa distância, no entanto, o aeroporto deixa a desejar, com apenas uma saída diária, para Nova York, com o A330-200 da Swiss. Novamente comparando-se com Zürich, o tráfego do Oriente Médio é bem mais expressivo, com vôos da Iran Air com Airbus A310, Saudia com B777-200ER, Royal Jordanian com Airbus A320-200, A310 e A340-200. Há ainda o tráfego sazonal. No inverno, por exemplo, pode-se contar ainda com uma enxurrada de vôos charters ingleses, trazendo esquiadores. No verão, vôos charters para a Turquia e Mediterrâneo dão o tom.

A aviação não regular, e neste caso estamos falando de vôos executivos ou VIPs, responde por uma grande parte dos movimentos no aeroporto. A família saudita, por exemplo, tem em Genebra uma casa de veraneio - comenta-se que somente o "iptu" da propriedade é de 5 milhões de euros - e a delicada condição cardíaca do Rei saudita faz com que ele seja visitante constante na cidade, por semanas as vezes. Com isso, o vai e vem de jatos da frota da Saudia VIP é constante e imprevisível, desde o menor dos Gulfstreams até o 747-300 particular do Rei, passando pelo 757 convertido para hospital ou pelos dois MD11 VIPs. Some-se a isso jatos executivos pesados: metade dos Boeing 737BBJ construídos é baseada em GVA, inclusive dois BBJ2, e o movimento de outros altos dignatários do Golfo Pérsico. Oman, Qatar, Emirados Árabes Unidos, estão todos lá, as vezes todos ao mesmo tempo Um único pormenor: caso não seja possível fotografar estas aeronaves chegando ou saindo, as chances de conseguir boias fotos, sem ter acesso ao pátio, são pequenas. A movimentação destas máquinas de transporte VIP é em grande parte imprevisível.

 

O tempo, sempre ele...

Sempre que se pensa em Europa Central vem aquela dúvida na cabeça: e a meteorologia? Realmente ela pode colocar tudo a perder, sem contar que Murphy tem o péssimo hábito de mandar as nuvens junto com os aviões mais interessantes. Para Genebra em especial, vale uma dica: evite a todo custo os meses de final de ano. A região possui um micro-clima que faz desta época uma das piores para fotos, com chances tão grandes do tempo estar ruim, como a de encontrar um croissant em uma padaria da cidade.

Mas nem tudo está perdido: se o tempo estiver ruim, aproveite para desfrutar da atmosfera da cidade, de Lausanne, mais ao norte ou até quem sabe uma esticada para Zürich, onde o tempo no inverno costuma ser menos ruim: por 83 francos suíços compra-se o bilhete da deslumbrante viagem de trem, de aeroporto a aeroporto.

 

Renato Salzinger 

 

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