EDITORIAL  |  REPORTAGENS  |  FLIGHT REPORTS  |  AEROPORTOS  |  AERONAVES  |  COMPANHIAS AÉREAS  |  ACIDENTES

 

Congonhas

 

Um longa história

Congonhas deve seu nome ao Visconde de Congonhas, Lucas Antônio Monteiro de Barros, que governou a Província de São Paulo entre 1824 e 1827. Seu bisneto, dono das terras, em 1936 vendeu 485.000 m2 dos 800.000 ocupados pelo aeroporto à Cia. Auto Estradas, incorporadora e construtora, que planejava urbanizar a região, chamando-a de Vila Congonhas. 

São Paulo contava então com mais de um milhão de habitantes e seu aeroporto era o Campo de Marte, inaugurado em 1920. Porém, a ocupação ao redor de Marte impedia o alongamento de sua pista para poder receber aeronaves maiores. A Cia. Auto Estradas construiu uma pista no terreno recém comprado, operando o primeiro vôo no local em 1º de Abril de 1936. Em 15 de setembro o Governo do Estado anunciou a compra da área e a construção do "Aeroporto de São Paulo". 

 

Crescimento e decadência

Após a Segunda Guerra, o tráfego aéreo explodiu. Com as acanhadas acomodações de então, alguns vôos, principalmente os internacionais, teriam de ser transferidos para a Base Aérea de Cumbica. O governo então decidiu pela construção do que hoje é o prédio ou ala central do aeroporto, inaugurada em 1955. A pista foi alongada em 1949 para os atuais 1.865m e uma segunda (auxiliar) de 1.445m, foi construída. O pavilhão VIP foi inaugurado em 1954 e a ala internacional em 1959. No quarto centenário de fundação da cidade, 1954, São Paulo já possuía 2.5 milhões de habitantes. 

Naquela década, antes do surgimento dos jatos, os vôos internacionais chegavam até Congonhas. Os Constellation da Lufthansa, Ibéria, Air France, os DC-6 e DC-7 da Pan Am, Braniff, Alitalia, eram vistos - e como - pelos paulistanos, que logo criaram o hábito de ir para Congonhas "ver avião subir e descer". Isso sem falar nas nossas empresas, que às dezenas, ocupavam os pátios: Panair, Real, Nacional, Aerovias, Varig, Cruzeiro, Lóide, Vasp, Varig, Sadia, entre outras, enfeitavam e enchiam os olhos dos admiradores. 

Naquela época civilizada, além dos terraços, em frente ao terminal havia um jardim usado para observar os movimentos. Situado no mesmo nível das pistas, o público era separado dos aviões por um alambrado de 1.5m. As pontas das asas dos DC-6, Electras, Scandias e Convairs ficavam a não mais que 10 m dos felizardos visitantes da época. Bons tempos...

Mais do que ver aviões, Congonhas converteu-se na "Praia de Paulistanos". Em seu último andar, o restaurante foi cenário de bailes e festas concorridas. Além disso, as livrarias e o Café do Aeroporto permaneciam abertos noite afora, tornando-se parada obrigatória para boêmios e notívagos. 

A inauguração de Viracopos em Campinas em 1960 trouxe sensível diminuição nos movimentos internacionais. Os DC-8 e 707 passaram a operar em VCP ou no Galeão. Em Congonhas, restaram apenas os Constellations e os Comet 4 da Aerolíneas Argentinas. Também por lá ficaram os vôos intra sul-americanos. Isso sem esquecer dos não menos fascinantes Convair 990, que a Varig manteve em alguns serviços saindo e chegando em Congonhas. De qualquer forma, as curtas pistas de CGH fizeram com que a cidade de São Paulo ficasse sem um verdadeiro aeroporto internacional, situação só alterada 25 anos depois, com a abertura de Cumbica, em 1985.

Mesmo assim, Congonhas cresceu junto com a cidade. Principal gerador de tráfego doméstico, São Paulo recebia os Caravelles, Electras, Viscounts, Heralds, Avros, Convairs e Douglas que mantinham as pistas cheias. Em 1970, começa a renovação da frota doméstica: a Cruzeiro e a Varig colocam o 727-100 em operação. Vasp e Sadia entram com o One-Eleven. 

 

Sai de baixo 

Embora muito se comente, Congonhas é um aeroporto seguro, embora crítico. A história mostra que ao longo dos anos, o número de acidentes ocorridos em operações no aeroporto pode ser considerado normal.

Algumas tragédias ficaram especialmente famosas: em 1963 o PP-CDW, Convair da Cruzeiro, caiu sobre o Planalto Paulista, tentando retornar em emergência. Em desastre semelhante, o EMB110 PP-SBE da Vasp, em 1975, caindo no bairro do Campo Belo. E o mais famoso de todos: o PT-MRK da TAM que caiu no Jabaquara, em outubro de 1996. Nenhum destes acidentes pode ser imputado às condições operacionais encontradas no aeroporto. Mas a mídia, que não é mesmo do ramo, logo apontou CGH como sendo "inseguro". Mas ninguém ainda fez a conta de quanta gente morreu nas marginais a caminho de Guarulhos!

 

Guarulhos muda tudo

Em 1985, GRU esvaziou Congonhas. Somente a Ponte Aérea a e as regionais passaram a dividir o aeroporto. O ruído dos jatos foi interrompido por cinco anos: entre 1985 e 1990, apenas os Fokker 27, Brasílias e Electras operaram regularmente, além de jatos executivos. 

Em 1990, a TAM colocou seu primeiro F100 em operação, chamando-o inicialmente de "O Jato de Congonhas". O crescimento da empresa, após a entrada dos F100 nos Vôos Diretos ao Centro-VDC, deu novo fôlego ao aeroporto, que hoje é o mais movimentado do país, tendo inaugurado no Brasil o sistema de slots de horários. 

Em 7 de janeiro de 1992, o triste vôo final do Electra deixou um vazio, uma saudade sem fim. As "regionais" explodiram, transformando-se em "nacionais". A Transbrasil não aguentou. Nesse processo darwiniano, a Gol surgiu e ocupou seu espaço. No mais, a TAM, Grupo Varig, Gol, Pantanal, Trip, Ocean Air e a Vasp ocupam 100% dos movimentos regulares.

Com mais de 12 milhões de passageiros acotovelando-se nos seus terminais e salas de embarque, uma ampliação era fundamental. Optaram por construir um prolongamento, uma espécie de novo terminal em frente ao antigo, que, tal qual um câncer arquitetônico, desfigurou a arquitetura histórica de Congonhas para sempre. Num país onde a barbárie intelectual e a rusticidade espiritual crescem em PG, não chega a surpreender...

 

A Night to Remember

Em 1999, ocorreu um fato curioso: foi realizado o primeiro casamento nas dependências de Congonhas. No dia primeiro de Maio, às 21h00, em cerimônia civil seguida de festa, os pombinhos disseram o sim. Seguiu-se um jantar no restaurante do aeroporto para 250 convidados. No cardápio, propositalmente o famoso "strogonoff do aeroporto". 

Os A319 e 737-300 contribuíam com o barulho feito pelos convidados. Às 23h00, quando os jatos silenciaram, subiu ao palco o conjunto vocal Os Cariocas, presente-surpresa da noiva, como prova de muito querer-bem ao noivo, que é fã dos Cariocas e de Bossa Nova. Apropriadamente, o conjunto atacou de "Samba do Avião". Os convidados mais velhos não aguentaram e caíram na dança, enquanto o conjunto desfilava seus maiores sucessos. Foi uma noite memorável, principalmente para mim, que era o noivo.

 

Gianfranco Beting

 

Topo da página