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SAA South African Airways



Quinta-feira, 3 de junho de 2004. Tempo feio em São Paulo, algo incomum no mês de maio, famoso por seus dias azuis, sem nuvens, frios e secos. Chovia em Guarulhos quando apresentei-me para o check-in. Vamos fazer nosso primeiro Flight Report numa empresa Africana, a South African Airways ou SAA.

O check-in foi feito por uma funcionária que trajava um uniforme da SATA, empresa que presta serviços de handling para muitas companhias aéreas que operam no Brasil. Nada simpática, a moça não me informou algo que eu já sabia: que naquela tarde, por motivos técnicos, o A340-300E originalmente escalado para o vôo seria substituído por um dos cinco A340-200 que a SAA opera em regime de leasing. Estas são aeronaves usadas, que voaram por muitos anos na Lufthansa. Reconfiguradas para duas classes, os jatos uniram a África ao Brasil por pouco menos de um ano, entre julho de 2003 e maio de 2004, quando deram lugar aos A340-300 Enhanced, orgulho da frota da SAA, que os recebeu três nos últimos meses e como tal, foi a primeira operadora desta nova versão em todo o mundo.

Como eu já sabia? Havia ligado antes de sair de casa para saber o prefixo da aeronave. Informado que seria o ZS-SLB, fiquei desapontado: afinal, tinha a expectativa de voar no novo A340-300E. Até porque nestes, ao contrário dos A340-200, os assentos da classe executiva viram camas, reclinando 180º. Ou seja, com a troca de aparelhos, estaria trocando uma noite bem dormida numa cama por uma noite tentando dormir numa poltrona.

Seja como for, ao terminar o check-in perguntei se o vôo seria feito num A340-300. A resposta, mal-humorada, foi: "Sim, é um A340." Insisti: "Da Série 200 ou 300?" Surpresa, a atendente informou que era um A340-200, como se isso significasse a mesma coisa. Seria falta de informação, de competência, de honestidade ou uma combinação desses fatores? Deixa pra lá.

Segui para o portão e lá estava ele, nosso A340-200, pronto para o embarque. Logo estava ocupando a poltrona 3A, um das 42 disponíveis na classe executiva. Fui recebido com simpatia pela tripulação, que logo passou oferecendo champagne ou suco de laranja como drink de boas vindas. Enquanto prosseguia o embarque, aproveitei para solicitar uma visita à cabine de comando, sendo prontamente atendido. Algumas fotos e trocas de gentilezas, e voltava ao meu assento, satisfeito com a simpatia dos aeronautas a bordo, já que os aeroviários lá do check-in deixaram a desejar.

Portas fechadas, 178 pessoas a bordo (15 na executiva, 149 na econômica, e mais 14 tripulantes (3 na cabine de comando, 6 na cabine dianteira e mais 5 na cabine da classe econômica) observei a chuva caindo lá for a enquanto nosso Airbus era tratorado para a sua posição no patio. Eram 17h44 e nosso horário previsto de saída (ETD) era 17h40.

Mais seis minutos e nosso Airbus começou o taxi rumo à cabeceira 27R. Subiríamos seguindo a saída por instrumentos (SID) Tati. Treze minutos depois, as 18h03, iniciamos a corrida de decolagem, com o ZS-SLB pesando 220 toneladas, ou 37 a menos que seu máximo operacional que é de 257.000 kg. Decolar num A340-200 ou -300 é sempre uma experiência inesquecível, pois o jato tem uma performance que sempre deixa a desejar. Neste caso, levamos exatos 60 segundos para atingir a VR, a velocidade de rotação, que nesta operação foi de 136 nós. A nossa V1 foi 123 nós e a V2, 145 nós.

Descolando vagarosamente do asfalto molhado, sobrevoamos baixinho a rodovia Hélio Smidt que dá acesso a Guarulhos. Os quatro motores CFM roncava furiosamente lá fora, tentando fazer o A340 ganhar altura sobre as casas feias e fábricas idem de Guarulhos. Nada. Sacudido pelos fortes ventos e pela chuva, o A340 reclamava como um pássaro preguiçoso, parecendo querer negociar com a tripulação cada metro ganho na subida. As luzes da cidade passavam não muito longe lá embaixo, e pensei comigo mesmo: que belo espetáculo deve ter sido poder observar esta decolagem desde o solo.

Mas fomos ganhando altura e subindo para nossa modesta altitude inicial de cruzeiro, 33.0000 pés. Já era noite e alguns minutos depois, conseguimos deixar a camada de nuvens carregadas para trás. Uma maravilhosa lua cheia despontou, iluminando a cabine que permanecia às escuras, enquanto o Airbus subia em rota.

Afinal estabilizamos e em seguida, os cardápios foram oferecidos. Bonito design, com cerâmicas da tribo Mpumalanga enfeitavam a capa. Dentro o cardápio estava bonito também. Dentre as duas opções de entrada, fiquei com frios e folhas e então, ataquei um filé mignon correto, com purê de mandioquinha e legumes, uma das 4 opções de pratos quentes. Uma seleção de queijos e frutas e, para arrematar, sorvete de creme com cobertura de chocolate e avelãs deram cabo à minha fome. Já passava das 21h00, horário de Brasília, ou 01h00 do dia 4 de junho, horário de Johannesburg. Em menos de 6 horas estaríamos no solo novamente, desta vez na África.

Resolvi tentar descansar nas poltronas do A340-200, mas para quem contava com os 180º das poltronas-cama do novo A340-300E, a relativamente modesta reclinação destas pareceu um castigo. Sendo assim, consegui dormir pouco mais de uma hora.

Acordei e fiquei examinado o sistema de video do A340, com 6 programações distintas em 12 canais, um padrão que, para os dias de hoje, deixa muito a desejar. Então cruzávamos a 37.000 pés, nossa altitude final de vôo, com velocidade de Mach 0.798. Interessante notar que encontramos um vento de cauda fortíssimo, de mais de 200km/h, o que fez com que a velocidade do A340 em relação ao solo passasse dos 1.000km/h. Isso certamente reduziria nosso tempo de vôo e chegaríamos antes do horário previsto, 06h55.

Então algo surpreendente aconteceu. Olhei no relógio e constatei que faltava pouco menos de uma hora para nossa chegada. A cabine continuava às escuras. E, por incrível que pareça, permaneceu assim até nosso pouso. Ninguém passou despertando, ninguém passou informando que estaríamos chegando em breve.

Eram exatamente 01h00, horário de Brasília, quando iniciamos a descida rumo ao Aeroporto Internacional Jan Smuts em Johannesburg. O café da manhã simplesmente não foi servido!

Com a gradual descida da aeronave servindo de despertador, os passageiros se prepararam como puderam para a chegada. Finalmente, tocamos em solo africano as 06h26 minutos, seguindo a STAR GESIN 1A que nos conduziu à pista 03R. Completamos a travessia do Atlântico Sul em 07h23 minutos de vôo, uma marca excelente, que reduziu nossa viagem em mais de meia hora.

Avaliação: notas vão de zero a dez.

1-Reserva: Nota 10.
Bastante cordial e eficiente, feita pela própria SAA.
2-Check-In: Nota 2.
Absoluta falta de simpatia e de transparência por parte da atendente. Se a SAA quer terceirizar o serviço de atendimento em terra, precisa ser mais rigorosa na escolha de pessoal e na observância da qualidade do serviço prestado.
3-Embarque: Nota 10.
Organizado e com prioridade para a Business Class.
4-Assento: Nota 6.
Antiquada, embora relativamente confortável. Mas para quem contava com uma cama a bordo, não deixa de ser muito decepcionante.
5-Entretenimento: Nota 7.
A revista de bordo da empresa, Sawubona, é bastante boa. Bem editada, bons textos, enfim, de excelente padrão. Já o sistema de entretenimento, mesmo com monitores individuais, deixou muito à desejar. Este seria um bom padrão para quinze anos atrás, na época em que os Airbus foram entregues.
6-Serviço dos comissários: Nota 8.
Atenciosa, cordial, educadíssima. Excelente padrão, sob todos os aspectos. Muito estranho foi não servirem o café da manhã.
7-Refeições: Nota 9.
Bastante correta, bela apresentação. Saborosa, não deixou a desejar.
8-Bebidas: Nota 9.
A carta de vinhos está impressa na revista de bordo, o que não é nada prático. A seleção privilegiou os ótimos vinhos sul-africanos.
9-Necessaire: Nota 10.
Há muito tempo não via um kit tão bonito e bem apresentado, embora o"branding" privilegiasse a empresa que patrocina as bolsas (Delsey). Não havia, externamente, nenhuma identificação da companhia, da SAA, algo que poderia ser revisto. Mas, é claro, neste caso, a Delsey deixaria de patrocinar.
10-Desembarque: Nota 5.
Rápido e ágil. Mas depois, enfrentamos mais de 50 minutos no carrossel, esperando a entrega das malas. Que, por sinal, finalmente apareceram sem qualquer prioridade na entrega para os passageiros da Business Class. Muito ruim.
11-Pontualidade: Nota 10.
Embora saindo do Gate 4 minutos depois do STD, chegamos muito adiantados, graças aos fortes ventos.

Nota final: 7,81

Comentário final: A nota poderia ser melhor, sem dúvida. Engraçado: o que foi bom foi muito bom, o que foi ruim. também. Muitos altos e baixos, sinais claros de que a SAA está no caminho certo, mas ainda terá algum trabalho pela frente. De qualquer modo, agradou. Pode voar com a SAA sossegado.

Gianfranco Beting




Quinta-feira, 10 de junho de 2004, manhã fria e radiante em Johannesburg, principal Hub da South African Airways e base de partida deste último Flight Report desta série na empresa africana.

O check-in já havia sido feito em Cape Town na mesma manhã e não teria de perder tempo nos procedimentos em Johannesburg. Saí do terminal doméstico a pé e andei uns 500 metros até entrar no terminal internacional, mais velho e acanhado. Finalmente chegaria a hora de voar num dos três novíssimos A340-300E (Enhanced) recebidos pela empresa e escalados para os vôos que unem o Brasil à África todas as quintas, sexta, sábados e domingos.

Os jatos da Airbus são os equipamentos mais modernos e confortáveis voando entre a África e o Brasil, nestes serviços que são operados em regime de code-share com a Varig, que utiliza os veteranos MD-11 nestas rotas. Que por sinal a empresa insiste em chamar de "modernos" em suas mensagens publicitárias.

Segui para o portão na última chamada e entrei na espaçosa e elegante cabine da Premium Class. Minha poltrona era a 4K, última fileira da primeira de duas cabines ocupadas pela executiva da SAA. Instalei-me, recebi um drink de boas vindas, acomodei minhas coisas nos múltiplos compartimentos disponíveis nestas verdadeiras estações "multi-função" e me preparei para o longo vôo.

Enquanto prosseguia o embarque, aproveitei para solicitar uma visita à cabine de comando, sendo prontamente atendido. Portas fechadas as 10h10, o Cmte. informou que já estávamos prontos para a partida mas que o controle de tráfego (ATC) só iria nos liberar para partir as 10h27 devido ao movimento intenso (nosso horário previsto de saída - ETD - era 10h20). Com 188 pessoas a bordo (22 na executiva, 152 na econômica, e mais 14 tripulantes (3 na cabine de comando, 6 na cabine dianteira e mais 5 na cabine da classe econômica) observei nosso Airbus, de prefixo ZS-SXA, ser tratorado do portão A2 para a sua posição no movimentado pátio de JNB às 10h27.

Em cinco minutos estávamos taxiando, e éramos o número 5 para decolar. Nossa partida seria pela pista 21R e subiríamos seguindo a saída por instrumentos (SID) Grasmere 1C. A longa fila de tráfego retardou ainda mais nossa saída, que acabou finalmente acontecendo apenas as 10h50. Manetes aplicadas, levamos 52 segundos para atingir a VR, aos 152 nós. Nossa V1 foi 135 e a V2 foi de 158 nós. Ao decolar, o ZS-SXA pesava 241,759 kg, quase 40 a menos que seu máximo operacional de 280.000 kg.

Fomos ganhando altura lentamente, como é de praxe nos A340, e subimos na clara manhã para nossa altitude inicial de cruzeiro, 31.0000 pés. Com 68.000 kg de combustível para queimar durante este vôo, o A340-300E teria de perder parte deste peso antes de poder subir mais alto. Nossa tripulação estimou que o consumo de combustível durante o taxi seria de 630 kg, na decolagem mais 1.200kg e durante o restante do vôo (cruzeiro, pouso e taxi em GRU) mais 66.470 kg de JP4.

Estabilizamos e logo em seguida, os cardápios foram oferecidos. Dentre as duas opções de entrada, escolhi uma composição de salmão e camarão e de prato principal, um entrecote com molho acompanhado por legumes, uma das quatro opções de pratos quentes. Uma seleção de queijos e frutas sul-africanos muito bons e um sorvete de baunilha com cobertura de chocolate completaram os trabalhos.

Como este é mesmo um avião moderno, peguei meu laptop e sem maiores dificuldades conectei-o à fonte de força que cada poltrona-estação oferece, podendo trabalhar pelas horas seguintes. Finalmente o sono, o cansaço dos últimos dias e, claro, as taças de vinho branco, tinto e porto cobraram sua presença. Desliguei meu computador e aproveitei a reclinação de 180º das poltronas-cama do A340-300E e dormi por três horas.

Acordei realmente descansado e fiquei examinado o sistema de entretenimento do A340-300E. Interativo, possui dezenas de programações distintas em videos, audio, jogos, mapas visuais de acompanhamento de vôo: são 21 filmes de longa metragem, 16 canais de audio, 12 de jogos. Enfim, opções é que não faltam. Os monitores individuais são de 10 polegadas, o que torna ainda mais prazeroso utilizar este sistema que é On-Demand, ou seja, é controlado individualmente.

Ao observar o Flight Map, notei nossa velocidade em relação ao solo era de apenas 680 km/h. Isto se explica pelos ventos fortíssimos que enfrentávamos então. Compare com nosso vôo de ida, que durou 07h23 e note a diferença com este vôo no rumo oeste, que seria de mais de 10h00. A diferença está toda nos ventos, sempre mais fortes no sentido leste, que tanto nos ajudaram na ida como nos retardaram na volta. Cruzávamos então já a 39.000 pés, nossa altitude final de vôo.

Duas horas antes da chegada, uma refeição mais leve foi servida, composta de rocambole de presunto tipo parma e um espetinho de carne intercalada com milho. Ou, como opção quente, uma pizza. Um excelente "Gateau St. Honoré" e chá fecharam os trabalhos. Eram exatamente 15h40, horário de Brasília, ou 20h40 em Johannesburgo, quando iniciamos a descida pelo procedimento STAR Guru 09. Tocamos o solo brasileiro às 16h06 minutos, completando a travessia do Atlântico Sul em 10h14 minutos de vôo, exatamente 02h51 a mais que no trecho de ida.

Avaliação: notas vão de zero a dez.

1-Reserva: Nota 10.
Bastante cordial e eficiente, feita pela própria SAA.
2-Check-In: Nota 5.
Novamente tive problemas com o atendente não atendendo ao meu pedido. Fora isso, foi ágil, mas não posso dizer que tenha sido cortês.
3-Embarque: Nota 10.
Rápido e organizado e com prioridade para a Business Class.
4-Assento: Nota 10.
Espetacular. Sem sombra e dúvida, um dos melhores do mundo na categoria.
5-Entretenimento: Nota 10.
O sistema de entretenimento AVOD não deixou nada à desejar, um dos pontos altos de se voar uma aeronave avançada como o -300E. Realmente muito bom, anos-luz à frente de muitas competidoras.
6-Serviço dos comissários: Nota 10.
Como nos outros 3 vôos da SAA, foi um dos pontos altos: atenciosa, calorosa, educadíssima. Excelente sob todos os aspectos.
7-Refeições: Nota 9.
Bela apresentação, quantidades corretas, belos cardápios, não deixou a desejar.
8-Bebidas: Nota 9.
Com a carta de vinhos está impressa na revista de bordo, fica trabalhoso escolher o que iremos beber. Ainda bem que a seleção apresenta os ótimos vinhos sul-africanos. Desta vez fui num branco (um chardonnay da região de Stellenbosch) e num merlot (Simon), ambos muito bons.
9-Necessaire: Nota 10.
Um kit bonito e bem apresentado, embora não apresente externamente qualquer "branding" da SAA.
10-Desembarque: Nota 8.
Rápido e ágil. Malas nas esteiras com prioridade para os passageiros da Business Class.
11-Pontualidade: Nota 8.
Saída dentro do horário e chegada atrasada, graças aos fortíssimos ventos. A empresa não pode ser culpada e portanto, considero o vôo como pontual.

Nota final: 9,00

Comentário final: o que a SAA fez nos últimos anos pode ser considerado um milagre. De empresa de reputação digamos, variável, ela vem recebendo continuamente prêmios e elogios pela qualidade de seus serviços. Aviões novos como os A340-300E, A340-600, 737-800 e os A319 e A320 que a empresa começa a receber, fazem de sua frota uma das mais modernas de todo o mundo. Nota-se que o grupo de vôo é de primeira linha, pois nos quatro vôos que fiz foram todos impecáveis e cordiais. Já o mesmo não pode ser dito dos aeroviários, do pessoal de terra, que tanto no Brasil como na África deixaram a desejar. Este é o principal ponto que, a nosso ver, mereceria mais atenção da SAA. De qualquer forma, sem sombra de dúvida, a SAA é a melhor opção para se voar entre o Brasil e a África. Eu assino embaixo.

Gianfranco Beting

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