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Oceanair ONE6120




Bem-vindo ao primeiro Flight Report na OceanAir. Voaremos entre Congonhas e Salvador. Você vai experimentar o serviço de bordo com refeições quentes, novo padrão da OceanAir e vai viajar conosco também na cabine de comando, participando como observador dos procedimentos de pouso. Boa viagem!

"Autorizado push-back e acionamento, Oceanair 6120." A voz da controladora soou na cabine de comando do Mk 28, matrícula PR-OAL (ex-American Airlines N1440N). Sintonizado na freqüencia do controle de solo de Congonhas, o comandante-instrutor Victor Quintero, sentado na poltrona da direita, ouviu a instrução e então, com seu forte uruguaio, ordenou ao seu colega em instrução, Cmte. Barbosa Lima: "Vamos! É nossa vez."

Exatamente uma hora antes, havia me apresentado na loja da empresa, onde em segundos retirei meu bilhete. Fui gentilmente conduzido ao check-in por Regina Nascimento, recém chegada à OceanAir, para a qual trouxe sua valiosa experiência profissional de 16 anos de trabalho na Varig Rio-Sul. Em segundos, recebia meu boarding pass e podia então rumar ao portão 17.

Eram 11h24 da manhã quando os 53 passageiros a bordo, cinco embarcados em Porto Alegre e o restante em Congonhas, sentiram o leve tranco quando o trator empurrou o jato da posição "Box 22" para o pátio de Congonhas. À nossa esquerda, outro Mk 28 da empresa, o PR-OAH, aguardava sua vez de partir. A OceanAir está crescendo, ajudada sobretudo por suas novas linhas nacionais, recém adicionadas à malha da empresa. Todas elas operadas pelo versátil e econômico Fokker Mk 28.

Ao mesmo tempo, na cabine de comando, o motor Rolls Royce Tay direito (nº2) era acionado e ganhava vida, enchendo o pátio com seu ruído característico. Um minuto mais, trator desengatado, o mecânico de pista acenava para os dois comandantes. Polegar para cima, pinos de segurança das rodas nas mãos, seu gesto indicava: "Tudo ok, pronto para sair, um bom vôo."

O cmte. Quintero chamou o solo: "Oceanair 6120, pronto para o táxi, POB 58, alterna Maceió." Autorizado pelo controle de solo, Victor passou para a freqüência da torre Congonhas, ao mesmo tempo que Barbosa Lima aplicava potência aos dois Tays montados na cauda. O Mk 28 iniciou seu taxi as 11h27, dois minutos antes do horário previsto de partida do vôo Oceanair 6120, que cumpria o itinerário Porto Alegre - São Paulo - Salvador. Saímos antes do previsto.

Sentado na poltrona 17A, olhei à minha volta: sentado num confortável assento, fazia minha estréia como passageiro de uma empresa ainda jovem, que tinha pouco mais de seis meses de experiência com o Mk 28. Enquanto taxiávamos, refleti sobre a enorme e velocíssima transformação da aviação comercial brasileira. Iria voar na OceanAir, uma das cinco maiores empresas aéreas do Brasil. Que em breve, iria dar um salto ainda maior em sua trajetória de crescimento, ao iniciar suas primeiras linhas internacionais.

Sem tráfego, rapidamente alinhávamos na cabeceira 17. Barbosa Lima empurrrou gradativamente as manetes do Mk 28 para a frente, e o até então baixo sussurro dos dois motores Tay converteu-se num tom alto, quase um lamento, o que deu ao Fokker 100 (Mk 28 na OceanAir) o apelido de "chorão." Na cabine de comando, Quintero cantava as velocidades decisivas na decolagem: "Eighty Knots" - oitenta nós, momento de conferência de leitura dos velocímetros, feita por ambos os pilotos. "Vee-one" velocidade de decisão, que em nosso caso era de 130 nós, a mesma da V-R: após ultrapassar esse ponto, Quintero cantou: Rotate! Barbosa Lima então puxou o manche. O Mk 28 elevou-se no ar, com apenas algumas centenas de metros faltando para o final da pista. O Mk 28 iniciava a etapa São Paulo - Salvador. Eram 11h34 da manhã.

"Vee-Two" anunciou Quintero logo a seguir, quando constatou a ultrapassagem de 134 nós. "Gear Up!" ordenou Barbosa Lima, comandando a retração do trem de pouso. Pesando 40.6 toneladas, o Fokker ganhava altura em meio às baixas nuvens que enfeiavam o céu paulistano. Uma frente fria havia chegado à capital paulista no dia anterior, deixando os céus encobertos, cinzentos, derrubando a temperatura em quase 15ºC em relação à véspera.

Tem em cima, flaps recolhidos, o Mk 28 agora acelerava cumprindo a SID, saída padrão por instrumentos (SID, Standard Instrument Departure) DUMO. Ao ultrapassarmos 10.000 pés, a velocidade começou a ser novamente acelerada para além de 250 nós e o Fokker começou a furar a camada de nuvens. Em segundos o sol banhava a belíssima imagem corporativa da OceanAir. Adornado pela predominante cor escarlate na fuselagem, com as cores nacionais verde-amarelo e azul adicionadas na cauda, as aeronaves da OceanAir podem ser identificadas de longe.

Tão logo estabilizamos, os três comissários trabalhando no OceanAir 6120 iniciaram o serviço de almoço. Liderados por Tiago César, Rebeca (ex- Vasp) e Diego (ex-TAM) começaram a circular pelo corredor. Logo, refeições quentes (sim, isto ainda existe) foram gentilmente oferecidas aos 53 passageiros. Uma bandejinha com pão, manteiga, e uma pequena mas muito saborosa torta cremosa e quente de frango com batata (com um agradável jeitão de comisa caseira) e um bombom foram servidos. Gostei mesmo da torta. Acredito que, em aviões, comidas mais simples, com apresentação menos sofisticada mas com sabor e consistência, valem mais do que receitas pretensiosas - que na maioria das vezes, acabam mesmo sendo percebidas assim: muita pretensão para pouca satisfação. O almoço foi acompanhado por uma farta variedade de bebidas não alcoólicas: sucos, refrigerantes, chás (verde e mate), água e Schweppes eram as escolhas. Pedi a minha Coca light, como de costume, e como resposta ouvi da comissária rebeca uma pergunta que não tem nada de costumeiro: "Gelo e limão, senhor?" Surpreso, aquiesci e em segundos lá estava eu, tomando minha coca com gelo e limão, a 35.000 pés - altura de cruzeiro de nosso vôo. Um pequeno detalhe, que praticamente nada custa na conta do catering da empresa, mas que se mostrou como mais uma agradável surpresa no serviço de bordo da OceanAir.

Durante o almoço a tripulação passou uma segunda vez, oferecendo mais bebidas e depois, café. Logo depois, as bandejas foram retiradas e a cabine ficou mais calma. Passageiros cochilavam, casais recostavam-se nos assentos, ainda ostentando as cores da operadora anterior da aeronave. A OceanAir gradativamente está instalando bancos de couro nos seus Mk 28, melhorando ainda mais o conforto interno, que já é bom. A empresa adotou apenas 100 assentos no jato, criando um dos mais confortáveis padrões de espaço entre fileiras na aviação comercial brasileira nos dias de hoje. Pontos para a OceanAir. A comissária Rebeca veio ao meu assento informar que o comandante Quintero havia me convidado para assistir o pouso desde a cabine de comando. Lá fui eu. Jumpseat montado entre os dois pilotos, a visão do belíssimo litoral baiano era privilegiada. O dia lindo lá fora, com sol e temperatura em Salvador na casa dos 28ºC, prometia uma linda chegada na Boa Terra.

O Cmte. Quintero fazia a fonia. O Cmte. Barbosa Lima, voava em instrução para comando do Mk 28. Quintero era instrutor na finada empresa uruguaia U-Air. Ex-comandante de unidade de caça na FAU - Fuerza Aérea Uruguaia, de onde deu baixa no comando dos Cessna AT-37 Dragonfly - Quintero ia explicando a Barbosa Lima os macetes da operação do Mk28, jato que conhece muito bem. Barbosa Lima, veterano comandante de Boeing e Airbus na Vasp, ia aprendendo a voar o Mk28. E eu ia absorvendo essa verdadeira aula com atenção.

Quintero chamou o centro Recife responsável pelo monitoramento do espaço aéreo na região, e informou que o OceanAir estava pronto para iniciar a descida. Eram 13h11 quando fomos autorizados a descer para o FL 150, 15.000 pés. Quintero então foi instruído a contactar o centro de tráfego de Salvador em 123.25. Abandonamos os 34.000 pés da altitude de cruzeiro e começamos a descer na razão de 700 pés por minuto. Os computadores de vôo foram programados para a descida por instrumentos (STAR - STandard Arrival Route) MARE para a pista 10.

Os checks foram executados e instruções sobre os sistemas continuavam a ser dadas para Barbosa Lima. Os pilotos cumpriam sua última etapa de serviço naquele dia: decolaram as 06h15 de Porto Alegre para Congonhas; em Salvador, deixariam a escala, para retirnar no dia seguinte numa verdadeira maratona: Salvador - Aracajú - Maceió - Recife - Guarulhos - Cuitiba - Guarulhos. Atingimos 15.000 pés e então fomos instruídos a chamar a torre de Salvador em 119.35. Autorizados para descer ao nível de vôo 040 (4.000 pés), Barbosa Lima acionou os speedbrakes para perder altura mais rapidamente. O efeito foi imediato e o Fokker começou a afundar rapidamente. Salvador já brilhava diretamente em nossa proa, banhada pelo sol brilhante da Bahia, perfeitamente recortada contra os verdes mares da baía de Todos os Santos. Uma inesquecível visão.

Fomos autorizados a ingressar na reta final para pouso, o Fokker mantendo a rampa de planeio de 2.9º. O Mk 28 tem quatro posições de flap: 8, 15 , 25 e 42, a extensão máxima, conhecida como full flap down. Barbosa Lima comandou flap 8 a 2.300 pés. Quintero iniciou o landing check, último check antes do pouso. Cruzamos o marcador externo a 2100 pés. Flap direto para a posição 25 e trem em baixo as 13h32. A 1.000 pés de altitude, Quintero acionou o flap 42. O Mk 28 estava pronto para pouso, recebendo a última informação da torre: "OceanAir 6120, livre pouso, vento de 160 (graus de direção) com 10 (nós de intensidade)." Quintero confirmou: "OceanAir 6120, livre pouso, trem baixado e travado." Cruzamos a cabeceira a 123 nós de velocidade e Barbosa Lima pousou com suavidade, usando pouco reverso e freios na longa pista de 9859 pés de comprimento.

Eram 13h37: chegamos 23 minutos antes do horário previsto, depois de duas horas e três minutos de vôo. A torre de Salvador instruiu nossa mudança para a freqüência de solo, 121.9. O controle solo alocou o nosso portão de parada, de número 01. Às 13h42, estávamos nos calços. Nosso peso, de 36.4 toneladas, indicou um consumo de 4.2 toneladas de combustível, compatível com a média horário de consumo de um Mk 28 em vôo de cruzeiro, que é aproximadamente de 1.800kg/h.

Avaliação: notas vão de zero a dez

1-Reserva: Nota 10.
Impecável, tudo rápido e ágil.
2-Check-In: Nota 10.
Muita cordialidade, nenhuma fila.
3-Embarque: Nota 7.
Na posição remota, ter de andar de ônibus é sempre desconfortável. Mas a culpa não é da empresa.
4-Assento: Nota 8.
De tecido azul, ainda no padrão da American Airlines, antiga proprietária e operadora dos aviões. Confortáveis, e devem melhorar ainda mais quando os novos padrões da OceanAir (em couro cinza) forem adotados.
5-Entretenimento: Nota 5.
O entretenimento é limitado, mas havia as excelentes revistas Céu Azul e Flap nos bolsões das poltronas para compensar.
6-Serviço dos comissários: Nota 10.
Os comissários foram um show. A empresa está de parabéns.
7-Refeições: Nota 8.
Razoável apresentação, quantidades um pouco pequenas, mass refeições quentes são algo raro de se ver nos céus brasileiros.
8-Bebidas: Nota 8.
Apesar de não servir bebidas alcoólicas, a OceanAir apresentou ótima variedade: diversos sucos, refrigerantes, chás, água e café. 9-Necessaire: sem nota.
Não é oferecida.
10-Desembarque: Nota 8.
Rápido e ágil. Não pude analisar o tempo de entrega de malas, pois não despachei bagagem.
11-Pontualidade: Nota 10.
Saída na hora e chegada bem adiantada.

Nota final: 8,40

Excelente impressão no meu primeiro vôo na OceanAir. Ótimo atendimento, pontualidade e bons preços. A OceanAir mostrou que veio para ficar.

G. Beting

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