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JAL Japan Airlines



Noite estrelada e agradável em São Paulo. Madrugada fria em New York, com os termômetros marcando na Big Apple exatamente zero grau. Separadas por 4547 milhas ou nove horas de vôo, as duas cidades seriam unidas pelo 747-400 Skycruiser da JAL, ou Japan Airlines, neste que é nosso primeiro Flight Report na companhia aérea de bandeira mais tradicional do Japão.

A experiência começou em Janeiro de 2004, quando completei 40 anos e ganhei de presente o bilhete, cortesia de minha patroa. Com muitas milhas acumuladas no seu plano da British Airways, seu presente foi trocar 80.000 milhas por um bilhete de Classe Executiva, conhecida na JAL como "Seasons". Um presente e tanto, sobretudo para mim. A reserva foi feita na central da British Airways em Madrid. Fui atendido por um funcionário brasileiro, neste escritório que responde por todas as reservas para a América Latina. Excepcionalmente bem educado, a idéia de voar com a JAL partiu dele: afinal, eu já ia fazendo minha reserva na American Airlines, esquecendo que a JAL é mesmo parceira de ambas as companhias da oneworld, embora não faça parte desta aliança. Aceitei no ato.

Check-in rápido e cortês, pois embora o vôo estivesse praticamente lotado, a JAL tinha muitas posições abertas para atender o público. Em minutos rumava para a sala VIP da empresa, e aí a história foi diferente: lotada, eu e outros passageiros tivemos de ser acomodados na sala contígua, que serve normalmente à Aerolineas Argentinas e que um dia, foi da Transbrasil.

Tudo bem, pequeno deslize. Afinal, entre a classe Seasons e a First, naquela noite, nada menos que 84 passageiros embarcariam no 747, matriculado JA8076. Entregue à empresa nipônica em julho de 1990, ainda ostentava a identidade visual antiga. Mas, na melhor tradição japonesa, estava imaculado, externa e internamente.

Já passava de meia-noite e deixávamos a sexta-feira 13 para trás: embarcamos nos primeiros minutos do sábado, 14 de fevereiro. Acomodei-me no assento 19A, no Upper Deck, a fileira exatamente atrás da porta de saída de emergência. Se na Seasons o espaço entre fileiras já é bastante bom, imagine então neste caso: dava para deitar até a fileira da frente, pelo menos uns 3 metros.

Embarque completado. Dos 336 assentos disponíveis, (F 12 + C 77 + Y 237), a JAL conseguiu ocupar sete na First, todos os 77 na executiva e 225 na Econômica, 95% de ocupação: uma vôo que encheu os cofrinhos da companhia.

O Cmte. Sakurai saudou os seus mais de 300 passageiros, que naquela noite seriam servidos por 15 comissários, mais o Chief Purser, Koga San. Com 3 na cabine de comando, são 19 tripulantes trabalhando no Skycruiser, nome de marketing adotado pela JAL para seus 747-400.

Portas fechadas, a passarela telescópica é desengatada no portão 10 e o grande jato é tratorado para um pátio cheio de aviões cargueiros precisamente as 00:41, seis minutos depois do horário previsto de partida. Com mais nove minutos, os quatro motores PW 4056 girando, o JA8076 ruma para a cabeceira 09L: autorizado, Sakurai acelera e o gigante, protestando sua potência nos freios ainda acionados, ruge como um leão enjaulado. Segundos depois, Sakurai solta os freios e o 747 inicia sua decolagem com ímpeto. Segundos depois, curva a direita, o jato passa sobre o bairro dos Pimentas, após cruzar a cabeceira 27 de Guarulhos. Trem para cima, power setting reduzido para potência de subida, os passageiros da JAL podem acompanhar tudo pelas câmeras de video instaladas no nariz e na barriga da aeronave, outra saudável mania japonesa.

O serviço é iniciado imediatamente, com a simpática tripulação oferecendo bebidas e salgadinhos japoneses, ao mesmo tempo em que vai distribuindo os cardápios. Opto pela refeição japonesa e não me arrependo: maravilhosamenete apresentada, foi servida muito rapidamente, acompanhada de oban (chá verde) e um excelente sake. Perfeita para o horário, quase 01:30 da manhã, para o tamanho da minha fome, para entrar no clima da JAL.

Enquanto jantava, experimentava o sistema de entretenimento de bordo, individual e On-Demand: é o passageiro que decide o que vai ouvir (12 canais de núsica) ou assistir (12 de video) podendo avançar, retroceder, repetir, pausar ou mudar de programação como melhor lhe pareça. O controle multifunção, batizado de sistema Magic II pela JAL, serve também como telefone e comanda a programação de entretenimento da empresa, a JEN: JAL Entertainment Network. Tudo bem apresentado, produzido. Tudo bem japonês.

Terminei a refeição com um prato de frutas frescas, resistindo à tentação de avançar na mesa de doces que circulava pela cabine. Findo o jantar, já haviamos sobrevoado Brasília. Eram 02h15 da manhã, hora de BSB, ou 23h15 em New York. Voávamos a 900km/h e a 35.000 pés de altitude. Lá fora, sob o céu estrelado, cruzávamos o coração do Brasil, voando com temperatura externa de -45ºC. Estiquei-me nos assentos - confortáveis, mas de uma geração anterior ao que existe de mais moderno - e dormi bem pelas quatro horas seguintes.

No través de Cuba, fomos acordados para o desjejum, mas desta vez optei pelo cardápio ocidental: embora saboroso, não trazia opções de partos quentes. Todos os produtos servidos, dos queijos às geléias, eram brasileiros.

Lá fora, noite ainda fechada. Iniciamos a descida as 06h17, tocando no solo as 06h42, a regra dos 25 minutos entre o TOD (Top of Descent) e o pouso mantida, cravada. Pouso pra lá de macio, taxi curto até o gate 5 do Terminal 1 do aeroporto JFK. Fila rápida na imigração e um oficial, Mr. Rosenblatt, marotamente comentou após minha identificação fotográfica e por digitais: "Você tem dedos muito bons, pois a máquina os registrou facilmente, o que nem sempre acontece," me explicou. Não aguentei e fiz a piadinha: Esta é a primeira vez que um homem me diz isso!" Demos boas risadas e completei: "Tá vendo? Quanto tempo o Departamento de Defesa Norte-Americano perdeu sem saber quão bons são meus dedos!"

Bem humorado, principalmente por estar levando apeas a mala de mão, trinta minutos depois, com o sol nascendo, saía para a gelada calçada em frente, para o frio de zero grau do inverno norte-americano. Um belo vôo.

Avaliação final:

1-Reserva: Nota 10.
Feita pela British Airways em seu escritório de reserves que atende a América Latina, localizado em Madrid. Não poderia ter sido melhor: cortesia, educação, tom de voz, simpatia, conhecimento dos produtos da empresa. Enfim, nota 10.
2-Check-In: Nota 10.
Rápido e cortês.
3-Embarque: Nota 8.
Sala VIP lotada? Uh, oh.
4-Assento: Nota 7.
Bancos confortáveis, excepcional pitch. Mas agora, na executiva das boas empresas, já existem assentos que reclinam 180º.
5-Entretenimento: Nota 10.
Muitos jornais e revistas japonesas, menos opções ocidentais. Sistema de audio/video individual, On-Demand, Magic II, excelente.
6-Serviço dos comissários: Nota 10.
Impecáveis, amáveis, delicadas.
7-Refeições: Nota 8.
Jantar saboroso e excepcionalmente bem apresentado. Café da manhã correto apenas.
8-Bebidas: Nota 9.
Boas opçõs na carta, copos sendo sempre "completados" pela tripulação.
9-Necessaire: Sem nota.
Não é mais distribuída, substituída por um kit composto de chinelos, e o básico para dormir: plugs de ouvido, máscara e kit dental.
10-Desembarque: Nota 8.
Um pouco lento, sobretudo para quem está no Upper Deck.
11-Pontualidade: Nota 10.
Saímos pouco depois do horário e chegamos antes do STA.

Nota final: 9,00

Comentário final: As atenções e delicadezas constantes das comissárias, os detalhes de serviço e o sistema de entretenimento AVOD evidenciam que a JAL é uma empresa aérea de serviço sólido, consistente, de classe internacional. Quem sabe, sabe. Para ficar perfeito, só falta uma coisa: as poltronas na Seasons deveriam reclinar 180º, a exemplo do que já fazem algumas competidoras.

Gianfranco Beting


Nosso segundo Flight Report na JAL começa em New York. Um ensolarada tarde de domingo, fria, fez com que a despedida da Big Apple fosse ainda mais difícil. New York é uma das raras cidades no mundo onde parece que sempre se vai antes da hora.Todo último dia na cidade eu passo pensando assim: puxa, poderia ficar mais uns dois ou três...

Bem, lá fui eu para o moderno terminal internacional de JFK. Ao chegar, encontrei o check-in vazio e em segundos, saía com meu boarding pass para a classe executiva da JAL, "Seasons". Voaríamos em outro 747-400 "Skycruiser". Em minutos entrei na sala VIP da empresa, onde fui tratado com a mesma cortesia do check-in. Foi lá que descobri que o JL048 daquela noite estaria atrasado em pelo menos uma hora.

Aproveitei e saí andando pelos gates do terminal para fotografar ainda mais um pouco. O sol acabou deitando no horizonte e eu voltei para a sala a fim de aguradar o embarque na verdade, no 747 matriculado JA8075, que chegou mesmo mais de uma hora atrasado de Tokyo. Pensei: só decolaremos daqui a mais de 90 minutos.

Dito e feito. Como agora é necessário a tdos os passageiros, até mesmo aqueles em trânsito, passar pela imigração norte-americana, o embarque demorou ainda mais. Ao final, fomos chamados apenas as 20h15.

Acomodei-me no assento 29A, no deck principal e infelizmente não no Upper Deck, como no vôo da ida. É que nesta aeronave, a configuração interna é diferente. Assim, na corcova do JA8075, os assentos são de classe econômica.

Embarque completo, avião 100% tomado. Absolutamente nenhum assento disponível. Se no vôo da ida o JA8076 apresentava 336 assentos disponíveis, (F 12 + C 77 + Y 237), o JA8075 estava configurado para 384 assentos (F 12 + C 69 + Y 303). Essa é uma das mais de dez configurações internas das dezenas de jumbos da empresa nipônica. Porque isso? Porque a JAL opera rotas muito distintas com o 747, que vão desde serviços premium entre Tokyo e Londres, por exemplo, onde a procura pos assentos de primeira classe e executiva é maior, até vôos turísticos para o Havaí. Neste caso, os 747 destinados para esta rota contam com 483 assentos, sendo 23 de executiva e o resto de econômica. Ou ainda, o 747-400D - D de doméstico - com (pasme) 24 assentos na executiva e nada menos que 544 na econômica, 568 lugares num 747.

O Cmte saudou seus quase 400 passageiros, pediu desculpas pelo atraso, e informou qua fila para decolagem em JFK era grande, como de costume. Portas fechadas, o 747 foi tratorado as 20h46, quase 120 minutos depois do horário previsto de partida. Com mais seis minutos, o JA8075 iniciou o taxi para a cabeceira 31L. Os passageiros acompanhavam tudo pelo monitor de cabine, ligado numa camera instalada no nariz do jato, uma tradição das empresas aéreas japonesas. Afinal, decolamos apenas as 21h08, um considerável atraso.

Estabilizamos e o serviço foi iniciado imediatamente. Notei, além da enorme diferença de conforto e privacidade que o Upper Deck proporciona, uma nítida diferença de atendimento. Neste caso, com a simpática tripulação do vôo de ida, que contrastou ainda mais com a indiferente tripulação que atendia naquela noite. O comissário que cuidava da área em que me encontrava era brasileiro. Para encurtar a análise, só posso lamentar: indiferente, aparentemente estressado, sei lá.

Sem muito charme nem simpatia, passou oferecendo bebidas e salgadinhos japoneses, ao mesmo tempo que distribuia cardápios. Optei pela refeição ocidental e também não gostei muito. Tudo correto, sim, mas nada de especial. Jantei tendo por companhia o ótimo sistema de entretenimento On-Demand: com 12 canais de música e 12 de video, este é o JEN: JAL Entertainment Network.

Findo o jantar, o cansaço do último dia começou a pesar e então estiquei a poltrona para passar algumas horas descansando. Como no vôo de ida, os assentos são confortáveis, mas não são camas, como as boas empresas do ramo já oferecem aos passageiros de classe executiva.

No través de Brasília, dia raiando lá fora, as luzes da cabine do 747 forma acesas e a tripulação passou oferecendo toalhinhas quentes, despertando os passageiros. Novamente, optei pelo cardápio ocidental para o café da manhã e, desta vez, o catering apresentava produtos japoneses e norte-americanos. Iniciamos a descida as 07h20, tocando no solo as 07h50, completando a viagem em 08h42 minutos, chegando a Guarulhos com um atraso de uma hora e quinze minutos.

Avaliação final:

1-Reserva: Nota 10.
Feita pela British Airways. Não poderia ter sido melhor, nota 10.
2-Check-In: Nota 10.
Rápido e cortês.
3-Embarque: Nota 7.
Sala VIP muito boa, mas longa fila antes de entrar no 747.
4-Assento: Nota 7.
Bancos confortáveis, mas antigos. E hoje em dia, na executiva das boas empresas, já existem assentos-cama.
5-Entretenimento: Nota 10.
Boas opções de jornais e revistas. Sistema de audio/video individual, On-Demand, Magic II, excelente.
6-Serviço dos comissários: Nota 4.
Decepcionante. sem um pingo de simpatia e a tripulação não passava frequentemente durante as refeições para completar copos, perguntar sobre necessidades. Quem voa JAL exige mais.
7-Refeições: Nota 6.
Jantar e café da manhã apenas corretos.
8-Bebidas: Nota 8.
Boas opçõs na carta.
9-Necessaire: Sem nota.
Não é mais distribuída, apenas um kit composto de chinelos, e o básico para dormir: plugs de ouvido, máscara e kit dental.
10-Desembarque: Nota 8.
Agilizado, malas rapidamente na esteira.
11-Pontualidade: Nota 4.
Saímos muito depois do horário e o atraso na chegada foi inevitável.

Nota final: 7,40

Comentário final: Consistência de produto é fundamental. A experiência deste vôo da JAL, embora não tenha sido absolutamente ruim, não me faria optar em voar pela empresa novamente. As atenções e delicadezas constantes das triopulações, um padrão da companhia nipônica, não estiveram presentes neste serviço. Claro, pequenos detalhes que são parte integrante do serviço estavam lá, assim como o notável sistema de entretenimento - ítens que fazem diferença. Mas se no mundo todo, as empresas orientais são conhecidas pela delicadeza e dedicação de seus tripulantes, a JAL precisa rever alguns critérios na hora de contratar. Em suma: foi decepcionante este JL 048.

Gianfranco Beting

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